Qualificações Bíblicas

Qualificações Bíblicas para o Presbiterato e o Diaconato

Precisamos observar as qualificações bíblicas para o presbiterato e o diaconato (I Timóteo 3.1-13; Tito 1.5-9), bem como entender o ofício de cada um com as suas respectivas responsabilidades e ações requeridas; ambos são dignos de honra e podemos de modo resumido dizer que o presbítero cuida do aspecto espiritual do rebanho e o diácono do aspecto material do mesmo (veja adiante sobre as funções de cada um conforme a Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil/IPB pautada na Bíblia).
O termo, na língua grega, para “presbítero” era usado para líderes de comunidades que pela experiência e vivência gozavam do respeito daqueles que eram por eles liderados, daí “presbítero” ter o significado de ancião.
A Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) reconhece dois tipos de presbíteros: os chamados PRESBÍTEROS DOCENTES que são os pastores que pela maior dedicação ao estudo e ensino da Palavra de Deus recebem este adjetivo de “docente”, e os PRESBÍTEROS REGENTES que são aqueles que juntamente com os pastores administram a igreja nas questões materiais e espirituais, formando ambos o Conselho da Igreja.
A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) Artigo 13 § 2º determina o prazo mínimo de um ano de membresia para candidatos ao presbiterato ou diaconato “salvo casos excepcionais, a juízo do Conselho, quando se tratar de oficiais vindos de outra Igreja Presbiteriana” e designa as seguintes funções para:

PRESBÍTERO (Artigo 51)
“a) levar ao Conselho as faltas que não puder corrigir por meio de admoestações particulares; b) auxiliar o pastor no trabalho de visitas; c) instruir os neófitos (novos convertidos), consolar os aflitos e cuidar da infância e da juventude; d) orar com os crentes e por eles; e) informar o pastor dos casos de doenças e aflições; f) distribuir os elementos da Santa Ceia; g) tomar parte na ordenação de ministros e oficiais; h) representar o Conselho no Presbitério, este no Sínodo e no Supremo Concílio”.
Podemos perceber a responsabilidade que tem os presbíteros de pastorear o rebanho de Deus que é a Igreja, presbíteros docentes (pastores) e regentes dividindo a tarefa de cuidar do rebanho do Supremo Pastor que é o Senhor Jesus (I Tm. 3.1-7; Ef. 4.11; Tito 1.5-9; I Pe. 5.1-4).

DIÁCONO (Artigo 53)
“a) arrecadação de ofertas para fins piedosos; b)cuidado dos pobres, doentes e inválidos; c) manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino; d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na Casa de Deus e suas dependências”.
Percebemos que o trabalho da Junta Diaconal se reveste de múltiplas oportunidades para proclamar o evangelho do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A Constituição da IPB registra que é função privativa do Conselho (Art. 83, alínea “d”) “encaminhar a escolha e eleição de presbíteros e diáconos…” e que “Cabe à assembleia da igreja local, quando o Conselho julgar oportuno eleger Pastor Efetivo, presbíteros e diáconos” (Art. 110), bem como “O Conselho convocará a assembleia da igreja e determinará o número de oficiais que deverão ser eleitos, podendo sugerir nomes dos que lhe pareçam aptos para os cargos e baixará instruções para o bom andamento do pleito, com ordem e decência” (Art. 111).
É digno de nota que o governo da IPB é conciliar democrático-representativo, segundo o qual a assembleia elege representantes para que estes possam administrar e liderar o todo para a glória de Deus e o bem-estar da igreja. O Conselho, portanto, tem a responsabilidade de conduzir e homologar todo o processo de eleição cuidando do antes, durante e depois.
Lembramos aos irmãos que antes de contactar possíveis candidatos para concorrer à eleição, devemos verificar se aqueles que desejam servir a Deus nestas funções possuem as qualificações bíblicas exigidas listadas pelo apóstolo Paulo em I Timóteo 3.1-13.

Vejamos as qualificações bíblicas para o presbiterato.

1) IRREPREENSÍVEL – o termo aqui usado não tem o sentido de ser uma pessoa perfeita, o que excluiria do processo todo ser humano, mas tem haver com a tentativa de encontrar pessoas com caráter e conduta que não venha a ser acusado pelos da igreja ou pelos de fora como alguém de procedimento escandaloso, levando assim ao descrédito a mensagem do evangelho;

2) ESPOSO DE UMA SÓ MULHER – a expressão não é de fácil interpretação, algumas sugestões tem sido dadas que devem ser descartadas pela inconsistência das mesmas:
a) seria uma proibição à poligamia, ter mais de uma esposa ainda que assumindo socialmente como tal, isto é improvável porque desde o Éden que a poligamia não era o plano original de Deus, aconteceu circunstancialmente com todos os problemas mencionados na Bíblia, e já na época de Jesus e da igreja primitiva o casal monogâmico (apenas um homem e uma mulher) já era o esperado de casais cristãos, que dirá de um líder na igreja;
b) que estipula “ser casado” uma qualificação não é uma alternativa coerente por deixar sem sentido a expressão “uma só mulher”;
c) entender como uma referência à proibição para a infidelidade é ir além do que o texto pode exprimir, como também é algo óbvio não só para líderes bem como para todo cristão que deseje constituir uma família segundo os moldes divinos;
d) o presbítero/diácono ter tido apenas um casamento, ou seja, ter sido “esposo de UMA SÓ mulher”, é difícil sustentar tal posição uma vez que a Bíblia permite um segundo casamento pelo cônjuge vítima de infidelidade, abandono e viuvez, embora a igreja primitiva, o meio religioso judaico e pagão considerasse como atitude de valor (meritória) e louvável o “ficar solteiro” mesmo em caso de viuvez ou de divórcio, não devendo buscar um segundo casamento, daí porque e por outras razões as colocações de Paulo em I Coríntios 7 considerasse como atitude de valor (meritória) e louvável o “ficar solteiro” mesmo em caso de viuvez ou de divórcio, entendendo ter sido o primeiro casamento como satisfatório não devendo buscar um segundo casamento, daí porque e por outras razões as colocações de Paulo em I Coríntios 7;
e) Conclusão – entendemos como tantos outros que não devemos ultrapassar o que está escrito, que o candidato deve ser “esposo de uma só mulher”, ou seja, esteja unido a uma só mulher.

3) TEMPERANTE – tem a ver com alguém dominado pelo fervor espiritual e moral, moderado, equilibrado, calmo, prudente.

4) SÓBRIO – sobriedade tem a ver com o caráter, ser sensato, ter domínio próprio, estar disposto e desejoso de aprender.

5) MODESTO – ser “sóbrio” é interior, ser “modesto” é como esse interior se manifesta, ou seja, é alguém com comportamento ordeiro, ordenado, com conduta disciplinada.

6) HOSPITALEIRO – a hospitalidade era altamente recomendada e necessária nos dias da igreja primitiva (Rm. 12.13) quando irmãos hospedavam pregadores viajantes de igreja em igreja, bem como recebiam em suas casas pessoas carentes da própria igreja. Hoje não deve ser diferente quando hospedamos pastores, pregadores, palestrantes, grupos, côros e outros.

7) APTO PARA ENSINAR – presbíteros e pastores têm ao seu encargo a responsabilidade do ensino da Palavra de Deus; vemos isto na igreja primitiva em Atos dos Apóstolos e na epístolas paulinas (I Tm. 5.17; II Tm. 2.2,24; 3.14; I Co. 12.29); hoje em dia o estudo da Bíblia nas escolas dominicais, em pequenos grupos e grupos de oração nos lares, em treinamentos, pregações, requer líderes conscientes de sua responsabilidade espiritual de ensinar.

8) NÃO DADO AO VINHO – era alguém que não se demora no beber; a Bíblia evita os extremos, seja beber até a embriaguez (I Co. 11.21; Gn. 9.20-27; I Sm. 25.36; Ef. 5.18) ou pregar a abstinência total ( I Tm. 5.23; João 2; Cl. 2.16). O líder não era proibido, mas advertido a não escandalizar.

9) NÃO VIOLENTO – literalmente é “não espancador”, não irascível, não brigão; vem logo a seguir ao vinho porque este leva àquele (Pv. 23.29,30; Gn. 4.23; 49.5,6).

10) AMÁVEL – é justamente o oposto do violento, irascível, é aquele que age com equidade, gentil, brando, disposto a abrir mão de direitos (sem contudo abrir mão da vontade de Deus – I Co. 6.7). Barnabé é um exemplo nesta área mesmo em meio ao que foi registrado em Atos 15.39.

11) NÃO CONTENCIOSO – é “avesso a brigas”, é mais profundo que “não violento” (= não esmurrador) , pois o não violento pode não querer uma briga física mas mergulhar numa disputa oral (I Tm. 1.4; I Co. 1.12), o NÃO CONTENCIOSO foge de ambas. Note que “amável” está entre “não violento” e “não contencioso” por se opôr a ambos.

12) NÃO AVARENTO – não apegado ao dinheiro (João 12.6) e não tendo como preocupação maior em sua vida as posses materiais (Lc. 12.20; Lc. 16.19-31).

13) ADMINISTRE BEM SUA CASA – Paulo raciocina do menor para o maior, quem não cuida bem de sua casa não poderá cuidar bem da igreja, e o pai deve fazer isto com todo “respeito”, ou seja, com toda dignidade e não violentamente, de forma que sua firmeza, sua sabedoria e seu amor sejam exemplos a serem seguidos por seus filhos nos seus futuros lares e no presente por aqueles que têm os seus lares constituídos (Atos 21.9; Sl. 128.3).

14) NÃO NEÓFITO – não recém-convertido, a tentação de promover pessoas recém chegadas à igreja é perigosa e nefasta, pode levá-la a se “ensoberbecer” (=estar cheio ou envolto de fumaça) e conseqüentemente ter sobre si a condenação de Deus pelo orgulho que caracterizou a queda do antes querubim Lúcifer agora Diabo (Ez. 28.11-19).

15) BOM TESTEMUNHO DOS DE FORA – a opinião dos de fora da igreja precisa ser levada em conta, precisa ser uma forte reputação positiva. Um candidato ao oficialato da igreja pode até sofrer o escárnio do mundo por amar a Jesus (Mt. 10.24,25; 1 Co. 4.13) e por querer viver piedosamente (2 Tm. 3.12), levando à vergonha e contradição os que o difamam falsamente (1 Pe. 3.16), mas não deve sofrer nunca pelo mau testemunho como cristão pela prática do mal e do pecado (1 Pe. 4.12-19).

Perceba que os sete primeiros requisitos são na maioria positivos com exceção de “irrepreensível” (= não censurável), os oito últimos requisitos são em sua maioria negativos (cinco deles começam com não), sendo três deles positivos. Assim sendo, temos nove requisitos positivos e seis requisitos negativos, todos igualmente importantes na vida de futuros candidatos. Deus nos dê a graça de buscarmos nos possíveis candidatos estas qualidades, para o bem da igreja e para o bem da vida deles e de suas famílias.
Entendendo que o presbiterato e o diaconato são vocações distintas em termos de funções, porém não de importância, temos algumas qualificações exigidas para ambas e outras específicas de acordo com o trabalho a ser desempenhado pelo presbítero ou diácono.

Vejamos as qualificações bíblicas para o diaconato.

1) CHEIOS DO ESPÍRITO E DE SABEDORIA
Os diáconos não devem ser quaisquer pessoas, mas a Palavra de Deus (Atos 6.3) fala de homens que tenham uma “boa reputação” demonstrada em uma vida de testemunho de que são “cheios do Espírito e de sabedoria”.
São pessoas: controladas pelo Espírito Santo e não pela carne, pela natureza pecaminosa; que vivem no temor do Senhor que é a base de toda sabedoria (Pv. 1.7); que priorizam sua vida espiritual em oração e na Palavra vivendo em comunhão com a igreja; que evidenciam o fruto do Espírito em suas vidas (Gl. 5.22,23); que demonstram sabedoria de Deus na resolução de problemas e na antecipação dos mesmos (Tg. 1.19,20).

2) RESPEITÁVEIS E SINCEROS
O apóstolo Paulo diz que os diáconos devem ser “respeitáveis, de uma só palavra”, não use de linguagem confusa, de “duas caras” ou “duas conversas” como se diz popularmente, com propósitos enganosos.
Precisa ser um diácono que mantém a sua palavra (2 Co. 1.17,18) e fala a verdade em amor (Ef. 4.15) servindo como apaziguadores de conflitos assim como aconteceu na origem do diaconato na questão das viúvas na igreja (Atos 6).

3) NÃO COBIÇOSO DE SÓRDIDA GANÂNCIA
O diácono não deve ser alguém que tira vantagem da situação de outros para benefício e lucro próprio. Algumas versões traduzem a expressão como “gananciosos de lucro sujos” ou “buscando ganho desonesto”.
A questão em jogo é que aos diáconos cabia administrar recursos destinados aos mais carentes, podendo estes serem desviados em benefício dos próprios diáconos caso fossem desonestos. Diáconos precisam ser pessoas que são bons mordomos de seus próprios recursos, dados por Deus, e generosos para com a igreja e seu próximo (2 Co. 8.1-5).

4) SAUDÁVEL NA FÉ
O apóstolo Paulo fala isto (1 Tm. 3.9) mostrando que o trabalho do diácono não é menos espiritual, por aparentemente ser mais “prático”.
O trabalho diaconal requer conhecimento e aceitação das Escrituras na prática como Palavra inspirada por Deus, requer uma experiência pessoal com o Senhor Jesus como Senhor da igreja e de sua vida, e requer uma vida cristã condizente com o chamado divino (Efésios 4.1).

5) EXPERIMENTADOS E IRREPREENSÍVEIS
Paulo trata disto em 1 Tm. 3.10. Já vimos sobre “irrepreensíveis” (quando tratamos do presbiterato) que não se trata de uma pessoa perfeita e sem pecados, mas sim que é alguém que procura viver dignamente o evangelho e a vocação de Deus para sua vida e não dá motivos de suspeitas de imoralidade ou atitudes questionáveis.
O apóstolo Paulo não diz como estes candidatos devem ser “provados”, mas parece-nos que a vida deles na igreja deve ser observada buscando no testemunho de vida as qualidades requeridas (1 Tm. 5.22,24,25), as quais sendo encontradas possibilitam a escolha deles pela comunidade para o exercício do diaconato.

Finalizamos lembrando que as qualificações “irrepreensível”, “marido de uma só mulher”, “governe bem seus filhos e a própria casa”, “não dado ao vinho”, são para ambos os ofícios (tratamos destas quando vimos as qualificações para o presbiterato), tanto presbiterato como diaconato, cabendo à igreja, em oração pela vontade de Deus, eleger homens que tenham em suas vidas estas características e as demais requeridas na Bíblia.
Deus abençoe a igreja na indicação de candidatos, cabendo ao Conselho aprovar ou não (Constituição da IPB artigo 83 alínea “d”) seus nomes para eleição segundo a vontade de Deus.


Pr. Petrônio Tavares

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